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Xápralá! Péraí, depois ocê mexe com isso. Este é um jeito bem mineiro de dizer, deixa para lá. Mesmo ja uma mulher madura, beirando os 50 ainda ouvi este tipo de coisa quando decidi me separar, sair de casa e reinventar minha vida. Não são raros os momentos em que ouço as pessoas me dizendo que deveria procurar um emprego porque este negocio de empreender é muito dificil. E quem foi que disse que o que é bom é fácil?

Mineira, sim, mas meio rebelde também, nunca fui muito de deixar para la, mas quase sempre fui muito mais do Xá Comigo. Acredito que sou movida a desafios e era tida como atrevida. Com uma certa dose de impaciência, prefiro pegar para fazer do que esperar que alguém faça. Quando a vida vai ficando monótona e sugere que nada de novo ou surpreendente vai acontecer, invento algo que me faça mover, sair do lugar.

Amo ser professora e este é muito mais que um oficio, é uma paixão e uma missão de vida. Desde criança, minha brincadeira favorita era dar “aulinha” para minhas irmãs mais novas e meus vizinhos. Não me lembro o que ensinava e nem se ensinava alguma coisa, mas sei que me sentia muito poderosa e chamava atenção dos meus “alunos” o tempo todo. Aquela brincadeira se transformou em profissão quando entrei na faculdade de letras da UFMG e alguns anos depois me especializei em linguistica. Desde os 17 anos, dou aula de inglês, para alunos de verdade e não de brincadeirinha mais. Tive minha primeira escola de idiomas em 1991 e vendi a ultima em 2014. Empreendedora inquieta, abri e vendi 4 escolas.

Há pouco mais de 3 anos, depois de me especializar em gestão de empresa e de coaching, de uma jornada longa como empresaria, realizei um sonho que achava inalcançável: ser professora de uma escola de negócios. E não uma escola qualquer, mas uma das maiores escolas de negócios do Brasil, a Fundação Getulio Vargas. Minha grande recompensa é saber que posso fazer alguma diferença na vida das pessoas e mais de 30 anos depois, dedicados à ensinar, vejo meus alunos brilharem como executivos, passarem em seleções de mestrado, doutorado, concursos, seleções de trabalho, serem promovidos e crescendo como profissionais. Porem, muito mais do que ensinar, o meu crescimento como pessoa ou “mestre” se dá porque aprendo a cada dia, não só com os livros, mas com cada um dos meus pupilos e pupilas.

Em 2009, fundei a Associacao das Mulheres Empreendedoras de Betim e em 2014 assumi a presidência da Camara Estadual da Mulher Empreendedora da Federação das Associações Comerciais de Minas Gerais. Vi uma nova paixão nascer dentro de mim, o empreendedorismo como ferramenta de empoderamento feminino. A união das mulheres e o verdadeiro sentido de sororidade, da mulher fazendo pela mulher, o compartilhamento de conhecimento, de negócios, o tecer de uma rede de relacionamento me fez acreditar que o mundo pode ser melhor, mais fraterno, mais igual e muito mais justo quando nos unirmos e nos fortalecermos emocional, intelectual e economicamente.

Como coach, professora, palestrante, presidente e membro de associações encontrei mulheres empreendedoras com historias incríveis e, quase sempre surpreendentes. Aquela mulher empresária ou intra-empreendedora, a executiva e profissional de micro, pequenas, medias ou grande empresas bem sucedidas, todas elas, com desafios muito parecidos: conciliar a vida profissional, pessoal e familiar. Não deixamos de ser donas de casa, mães, amantes e nos tornamos também profissionais competentes, guerreiras, determinadas, comprometidas e focadas. Fomos ocupando espaços e carreiras que talvez nem nós mesmas poderíamos imaginar. Estamos em todos os segmentos: educação, beleza, saude, construção civil, logistica, transporte, engenharias, direito…

Nos associamos, nos unimos, nos juntamos, nos apoiamos e o numero de redes de mulheres cresce exponencialmente no Brasil e mundo a fora. Neste caminho, encontrei uma mulher pequenininha, com carrinha de menina, mas uma força que me deixou especialmente interessada em conhece-la mais de perto. Do facebook, entrei em contato e sai do modo online para ver de perto e offline o que é que aquela bahianinha tem. Fundadora da rede Mulheres que Decidem, hoje presente na Colombia, Portugal e nos Estados Unidos com mais de 36 mil mulheres conectadas e se ajudando através do compartilhamento de ideias e negócios sem fins lucrativos, Tabatha Moraes me encantou com sua generosidade e sua missão de vida.

Desejei muito me aproximar ainda mais daquele grupo e desde o primeiro dia nos mantivemos conectadas mesmo ela em Sao Paulo e eu em BH. Um dia sonhamos juntas fazer algo que mostrasse as mulheres de Minas e o que fazemos fora do eixo Rio – SP. Foi quando Tabatha teve a ideia de publicarmos um livro de historias de mulheres mineiras. Não tive a menor duvida. Se ela precisava de alguém para coordenar este projeto e dar às mulheres a oportunidade de inspirarem outras contando a sua trajetória, eu estaria à disposição para ajudar que este sonho se tornasse realidade. Não pensei duas vezes e numa rápida conversa por telefone, tudo que pude dizer para aquela forte, determinada e aguerrida mulher foi; “Xá Comigo”.

Este é apenas o primeiro capitulo de muitos que temos pela frente. Relatos que nos tocam, nos emocionam, nos fazem chorar e as vezes ate rir, mas que acima de tudo nos fazem ter a certeza de que nenhuma delas terceirizou ou permitiu que ninguém escrevesse a sua historia. Ser autora é ter a legitima autoridade para fazer suas escolhas. É ter o papel e a caneta na mao, rascunhar quando necessário, apagar algumas linhas quando necessário, mas ir até o fim.

Xápralá coisa nenhuma. Xá Comigo porque cada uma destas historias ficará registrada em nossos corações.